DR. ANDRÉ CÉSAR PEREIRA LEOCATA – DELEGADO DE POLÍCIA

Fui aprovado no concurso público para Delegado de Polícia com 22 anos, tomando posse logo após completar 23 anos.
Fui o Delegado mais novo do meu concurso.

Quem lê este depoimento de um ex-aluno do Curso DEPOL, imagina logo de cara um rapaz dedicado aos estudos desde o início da faculdade, um famoso “nerd”.
Acontece que a história não é bem assim:
O sonho de ser policial (antes mesmo de conhecer polícia civil e militar) apareceu desde as mais remotas lembranças da infância, onde meu pai (policial militar) sempre me dando armas, algemas, assistindo filmes policiais comigo acabou tornando-se um espelho.
E a ideia nunca parou com o tempo, apenas se amadureceu.
Final do colegial chegou a hora: vou ser polícia, foi quando meu pai sentou-se comigo e explicou que teria uma polícia militar que basicamente tem como função impedir a ocorrência de um crime e a polícia civil, a qual possui como função básica a investigação após o crime que a polícia militar não impediu.

Logo em seguida, desejando meu pai explicou que caso optasse por ser policial militar era melhor prestar a prova da FUVEST na época e ser oficial e caso optasse por ser policial civil que fizesse faculdade de direito e fosse dirigir tal instituição, ou seja, ser Delegado de Polícia.
Embora a ansiedade em ser polícia era evidente, eu nuca fui um exímio estudante e nunca passaria na FUVEST naquela época sem cursinho e não poderia ficar um ano parado, logo, fiz a sábia escolha de fazer faculdade de Direito.
E lá vou eu, um moleque de 17 anos iniciando a faculdade de Direito no litoral norte. Faculdade que não era conhecida e que nunca havia aprovado ninguém em um concurso “top” da área jurídica (Juiz, Delegado, Promotor, Defensor, Procurador…), mas vamos encarar.
O que aconteceu? Tomei algumas suspensões no primeiro ano de faculdade (isso mesmo, suspensão na faculdade), afinal, como havia dito era um moleque de 17 anos fazendo faculdade. Mas logo “tomei jeito”.
Durante o segundo e o terceiro ano não houve mais problemas, só que também não estudava, “empurrava com a barriga” o Curso regular.
Durante o 3º ano de faculdade (2008) abriu um concurso para investigador de polícia, foi o último que não precisava de curso superior.
Eu pensei: vou prestar e passar até acabar a faculdade e participar de outro certame para Delegado.
Qual o resultado? Não fazia ideia do que estava fazendo naquela prova, não sabia absolutamente nada. Foi quando caí na real e percebi que as coisas não eram como imaginava a vida te cobra do que você abdicou.
Hora de tomar outra decisão na vida.
Fazer cursinho. Mas qual fazer? Inicia assim uma pesquisa sobre qual seria o curso ideal para minha tão sonhada carreira de Delegado de Polícia.
Comecei um curso a distancia em Caraguatatuba (cidade natal), mas ainda faltava algo mais. Sempre gostei do contato direto com os professores.
Encontrei assim o Curso DEPOL, que é um curso especializado e experiente, para Delegado de Polícia, onde somente Delegados dão aula.
Surge aí um empecilho, como iria viajar 400 km (200 de ida e 200 de volta) todos sábados?
Quando se quer algo não há conflito, você exclui as limitações impostas por nós mesmos. Assim, sem pensar me matriculei e subia a serra todo sábado (saindo 5h00m) para assistir um dia inteiro de aula.
Logo no primeiro dia já estava aquele clima incrível, todos falavam de polícia, todos com o mesmo objetivo, professores que já estão na área. Você se sente como se já fizesse parte da instituição.
Me encontrei! O curso era diferente, só voltado para as posições que a Polícia entende, mostrando os “macetes” de como responder as questões controversas em provas objetivas ou qual entendimento seguir em questões dissertativas e até mesmo a forma de comportar e responder na prova oral.

Mas mesmo assim não foi tão fácil a aprovação, sempre tem aquelas matérias que você não suporta, mas o jeito é estuda-las em dobro, pois pode ter certeza que você não gosta porque não a entende, quando passa a entende-la e vê que está matéria é um degrau para seu objetivo, começa a amá-la como todas as outras, pois não é uma matéria isolada que te faz passar, mas um conjunto delas.
Quanto ao método de estudo, utilizava as aulas do Curso DEPOL, complementava com a doutrina indicada e foi mais que suficiente.
A cada matéria estudada aos sábados revia de forma mais profunda durante a semana e sempre que entrava em um tópico novo revia rapidamente os tópicos anteriores.
O Cursinho é essencial na aprovação? Sim, mas 60% para aprovação depende só do aluno, não adianta vir, assistir as aulas e só, tem que estudar.
Eu estudei por quase 2 anos, 12 horas todos dias, não tinha sábado, domingo, feriado. Loucura? Talvez. Recompensador? Muito. Faria tudo de novo sem mudar nenhuma vírgula.
Agora o sonho de ser policial e a realização profissional são fatores preponderantes e no meu empenho total para aprovação? Com certeza. Mas tem algo que é muito maior que isso, algo que não está relacionado a um sentimento passível de ser transmitidos em palavras, mas resumiram em 4 (quatro) letras – AMOR. Não só AMOR pela profissão, mas pela família.

Eu, como a maioria dos brasileiros, não nasci no famoso “berço de ouro” e nada, NADA na minha vida foi fácil, tudo o que conquistei com muito suor, muita dedicação e sacrifício. Desde pequeno acompanhei meus pais fazendo contas em casa, minha mãe se privando de alimentos e roupas. Minha mãezinha fez que com eu tirasse forças não sei da onde para estudar 12 horas todo santo dia por quase 03 (três) anos.
Hoje minha mãe encontra-se em estado vegetativo há 6 meses proveniente de uma parada cardio-respiratória.

As únicas roupas novas que ela tem foi as que eu dei e que só pude dar em razão da estabilidade que a aprovação no concurso me trouxe.
Então se eu puder repassar algo a vocês sem dúvidas é para que NUNCA percam esse espírito de HUMILDADE e saibam que nada nesta vida é estável, tudo pode mudar a qualquer tempo.

Então sejam gratos pelo MUITO que vocês têm. Nunca esqueçam desses sentimentos de amor que motivam vocês a acordarem diariamente e batalharem para mudarem suas vidas.
Finalmente, após muito, mas muito esforço, aprovado no concurso.
Sensação indescritível, um dos melhores momentos da minha vida. É a hora que você olha para trás agradece e vê que cada segundo valeu a pena.

Polícia Civil do Estado de São Paulo, melhor instituição de Polícia Judiciária do Mundo.

Muitas vezes sem recursos esclarece crimes, acha indiciados que nenhuma polícia do mundo acharia nem com recursos de última geração e nossa tão amada Polícia Civil com seus improvisos “racha” o crime que quiser. Sempre falo que é o melhor lugar e emprego que alguém poderia ter.

Fiquei meio receoso no início em razão da idade, mas sabendo se portar todos te respeitam. Nunca esqueçam não lidamos com o Delegado, o Investigador, o Escrivão, nossas relações são com pessoas, seres humanos que merecem respeito e tratamento digno, sabendo disso, ninguém precisa usar o cargo para se impor, mas será respeitado pelo que é.
Aos futuros colegas não sejam chefes, sejam líderes, dirigentes da Polícia Civil.

Publicado em Casos de Sucesso